Cia. Olhares de Teatro é pioneira neste formato de animação em Caruaru
Fernandino Neto
O que chama a atenção no grupo de jovens atores que encontro num salão do Sesc Caruaru é a determinação e perseverança peculiares a quem se propõe viver produzindo arte. Eles são em torno de 30, mas encontro apenas seis para a entrevista. Rapidamente, montam o cenário para uma animação com bonecos, enquanto preparo a câmera no intuito de registrar o número. A Cia. Olhares de Teatro foi fundada em 27 de março de 2007 e, apesar do pouco tempo, os seus integrantes não brincam em serviço. Gostam de produzir. Sabem bem o que fazem.
Além de teatro, o grupo trabalha a dança em suas diversas formas (salão, popular e contemporânea). O pioneirismo - e, de certa forma, o que nos levou a produzir esta reportagem - foi o teatro de animação, também intitulado teatro de bonecos. Não é invenção da Cia. Olhares este tipo lúdico de fazer teatro. Todavia, o grupo tem, aos poucos, implantado este formato nos palcos caruaruenses. Em suas primeiras apresentações, vem conquistando a admiração do público. Os bonecos são inspiradores e, por trás deles, estão (com vestes pretas que os fazem ser confudidos com a escuridão necessária para a apresentação), jovens atores apaixonados pelo ofício que abraçaram.
Sim, teatro é profissão. Mesmo que para garantir o sustento eles necessitem trabalhar longe das luzes e dos aplausos. Começa a apresentação. Registro as imagens e, em seguida, montamos uma roda para iniciarmos a conversa. Descubro que o teatro de animação é uma iniciativa do jovem Adeilson Gigante. "Comecei a trabalhar com bonecos no colégio. Fiz oficina de mamulengo e tinha vontade de montar um trabalho neste sentido. Ninguém nunca montou algo assim em Caruaru, a Cia. é pioneira", explica Adeilson, que buscou inspiração num espetáculo apresentado por um grupo paulistano, em Caruaru. Manteve contato com o diretor e partiu para a luta. "Foi quando começou a pesquisa", diz.
Na animação que apresentaram para que pudesse registrar, Léo Alves, Luciana Salvador, Ayanny Kamille e Adeilson Gigante fazem movimentar o velho boneco que divide a cena com outro mais jovem. A iluminação foi feita por Benício Júnior e Sheila Tavares, os diretores da Cia. Olhares de Teatro. Eles estão ensaiando o espetáculo "Meu Menino", que terá 50 minutos de duração, com animação e sonoplastia. Outros integrantes também participarão do projeto com bonecos. No Dia das Crianças, a turma vai apresentar, na cidade de Riacho das Almas, a peça ‘‘Brincantes do boi estrelado'', através de um projeto solidário para crianças.
O texto e direção são de Benício Júnior, autor do espetáculo ‘‘A Botija'', que marcou a estreia do grupo em 2007. A Cia. Olhares, aliás, surgiu como grupo. Entretanto, como os seus principais integrantes fizeram parte da Companhia de Produções Artísticas Prazeres Barbosa, que parou quando a atriz deixou Caruaru para morar no Rio de Janeiro, tiveram a ideia de montar um espetáculo. "As pessoas cobravam", afirma Benício. Em julho de 2009, o Grupo Olhares recebeu o nome de Companhia. Neste curto período, se apresentaram no São João, montaram coreografias, como dança do ventre, e promoveram oficinas de teatro.
Sobre o significado pessoal do fazer artístico, cada um expressa a sua essência. "É uma maneira de a gente se libertar", diz Léo Alves. "A arte é uma parte de mim. É como o ar", afirma Luciana Salvador, jornalista. "Está no sangue. Fui pegando gosto", resume Ayanny. "Desde que Maria Alves e Prazeres Barbosa me apresentarem ao teatro, me apaixonei pela visão do ator/encenador", destaca Adeilson. Para Sheila Tavares, diretora e coreógrafa, a arte é uma realização, algo que a satisfaz. "O teatro é um conhecimento constante e diário. Estamos sempre buscando a melhoria daquilo que estamos realizando", conclui Benício. Estes jovens vão longe. Alguém duvida?
Serviço
Cia. Olhares de Teatro
Contatos para convites: 9222-0791 / 9176-3592 / 9421-5408
www.ciaolhares.blogspot.com
E-mail: beniciojunior1@hotmail.com
FONTE:http://www.jornalvanguarda.com.br/v2/?pagina=noticias&id=6997
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sábado, 23 de outubro de 2010
O ‘gigante’ dos palcos caruaruenses
Aos 22 anos, o jovem ator Adeilson André é uma das maiores revelações do teatro caruaruense contemporâneo
Fernandino Neto
Era 2003 quando o estudante Adeilson André assistiu ao espetáculo ‘Samba nosso de cada dia', na Escola Professor Lisboa, onde estudava. O jovem sempre fora extrovertido, mas algumas limitações físicas, sobretudo a gagueira, o tornava reservado. A peça, montada pela atriz Maria Alves, chamou a atenção de Adeilson. Quando terminou a apresentação, Maria convidou os estudantes para participarem de um novo espetáculo no ano seguinte.
O teatro foi desafiador desde o início, para ele e para tantos. Todavia, Adeilson era detentor de qualidades essenciais aos vencedores. "Sempre fui muito insistente e acreditei em mim", cita. Ele não era um estudante exemplar, sequer tinha gosto pela leitura. Mas aceitou fazer uma oficina de teatro com Maria Alves, visando a montagem do musical "Buchichos", que marcou sua estreia nos palcos, em 2004. Em seguida, a Fundação de Cultura promoveu oficinas com diretores caruaruenses, entre eles Prazeres Barbosa, que logo percebeu o talento do ator iniciante.
Adeilson se define como alguém exagerado, que extrapola em tudo o que faz, embora sua aparência seja a de um garoto família, concentrado e que preserva os valores que a sociedade contemporânea vem esquecendo. "Prazeres me convidou para fazer ‘Os brincantes do boi estrelado' e ‘Juízo final'. Aceitei o convite e fui para a companhia dela. Muito mais que sexo e dinheiro, o homem busca reconhecimento e o teatro me disciplinou para a vida", destaca. Em seguida, o jovem ator fez alguns testes, comerciais e chegou a participar do espetáculo ‘Whisk pra Guiomar', dividindo a cena com Prazeres, porém sem nenhuma fala.
Logo que a Companhia Prazeres Barbosa chegou ao fim, ele começou a desenvolver alguns trabalhos em colégios de Caruaru. "Fui também querendo me posicionar na Cia. Olhares, que estava surgindo", explica. Adeilson não nega que seu gênero favorito é a comédia. A realização como ator veio com o Joca da peça ‘A botija', revela o artista, que conseguiu vencer a gagueira.
Apesar do pouco tempo de carreira, Adeilson participou de outros espetáculos e esquetes, como ‘Os quatro elementos', ‘Felicidade sem teto' e ‘Confissões'. Aliás, foi com ‘Felicidade sem teto', texto de Ednilson Leite, que Adeilson conquistou o primeiro prêmio de melhor ator no Festival de Esquetes de Caruaru. Atualmente, ele desenvolve um trabalho pioneiro na cidade, com teatro de animação. Em breve, vai estrear o espetáculo ‘Meu menino', apenas com bonecos.
Adeilson quer um lugar ao sol. Ele também é ousado e se prepara para realizar um de seus maiores sonhos. "Pedi demissão na empresa onde trabalho há um ano e dois meses. Quero viver só de teatro", conta o rapaz, boa índole, que recusou uma promoção no trabalho, mesmo sabendo que pode ter um retorno financeiro menor. Como arte-educador ele espera que as pessoas estão à frente da educação, em Caruaru, acreditem mais na cultura.
Corintiano fanático, Adeilson diz que acredita em Deus, mas não é adepto de nenhuma religião ou corrente política. O ator cita como referências Charles Chaplin, Murilo Benício e Prazeres Barbosa. Também admira Fernanda Montenegro, Lima Duarte e Tony Ramos. Para ele, o ator deve exercer um controle sobre o emocional e a técnica. Adeilson reconhece que hoje a juventude tem melhores condições para fazer teatro, mas a falta de vontade e o estrelismo são alguns dos fatores negativos. "Alguns acreditam que teatro é premiação, mas é uma busca eterna."
Muitos devem estar se perguntando quem é Adeilson. No meio teatral, ele é conhecido como ‘Gigante'. O nome é proposital e foi colocado pela atriz Sheila Tavares. O Gigante dos palcos caruaruenses tem 1,93m de altura e um talento proporcional a sua estatura. Ele quer deixar marcas, ser reconhecido, continuar apostando nos sonhos e em si. "Acredito que algum dia o teatro será religião", conclui.
FONTE: http://www.jornalvanguarda.com.br/v2/?pagina=noticias&id=7107
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